Serão premiadas propostas de pauta que abordem os direitos de crianças e adolescentes e o legado social dos grandes eventos esportivos que serão sediados pelo Brasil - Inscrições estão abertas até o dia 27 de outubro, em cinco categorias -
O Brasil se prepara para receber, nos próximos três anos, a Copa do Mundo de Futebol e as Olimpíadas. Mas se por um lado a realização de dois dos maiores eventos esportivos do planeta pode representar uma oportunidade de desenvolvimento para o País, por outro se apresentam inúmeros riscos e desafios, muitos deles relacionados a aspectos sociais e de direitos humanos. Nesse contexto, merecem atenção diferenciada os segmentos mais vulneráveis da população, sobretudo as crianças e adolescentes. Problemas como a violência sexual, o trabalho infantil e o abuso de drogas tendem a agravar-se caso não sejam adotadas claras medidas para sua prevenção e enfrentamento, no rol dos programas e políticas relacionados aos eventos esportivos.
É diante desse cenário – e na semana de comemoração dos 23 anos do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) – que acontece o lançamento da VII edição do Concurso Tim Lopes de Jornalismo Investigativo. Adotando um foco especial, esta edição irá apoiar projetos de investigação jornalística sobre questões relacionadas à proteção e promoção dos direitos de crianças e adolescentes no contexto da Copa do Mundo de 2014. Também estará em perspectiva o legado social que a realização dos grandes eventos pode deixar para essa parcela da população.
Diferentemente de outras iniciativas na área do jornalismo, o Concurso Tim Lopes não premia reportagens já veiculadas. O projeto seleciona as melhores propostas de reportagem e oferece apoio técnico e financeiro para sua realização. São cinco as categorias para esta edição: “mídia impressa”, “rádio”, “televisão”, “mídia online e alternativa” e “temática especial”.
As inscrições devem ser realizadas até o dia 27 de outubro de 2013, por meio do site www.andi.org.br/timlopes. Podem se inscrever repórteres, editores e chefes de reportagem dos diferentes tipos de veículos, além de comunicadores populares, estudantes e professores de cursos de comunicação (na categoria “mídia online e alternativa”).
Desafios e oportunidades
A realização da Copa de 2014, que mobilizará diretamente 12 estados das diferentes regiões brasileiras, coloca em evidência uma rica agenda relacionada à proteção e à promoção dos direitos das novas gerações – matéria prima para as propostas de reportagem que serão premiadas pelo Concurso Tim Lopes.
Entre os principais riscos, especialistas apontam o trabalho infantil, a vulnerabilidade acrescida ao uso de drogas, o aumento na quantidade de casos de crianças desaparecidas e as situações de violência contra adolescentes e jovens, além da exploração sexual. Já entre as possibilidades de avanços – os quais exigirão compromisso claro por parte dos entes responsáveis –, estão propostas como a de universalização da prática esportiva nos sistemas públicos de educação, de implementação de programas inovadores nas áreas de esporte, cultura e lazer, de fortalecimento das políticas de inclusão dos grupos socialmente vulneráveis e de adoção de práticas efetivas de responsabilidade social pelas empresas envolvidas nos empreendimentos vinculados à Copa.
Em sua categoria especial, nesta edição o concurso focalizará o tema "Violência sexual contra crianças e adolescentes no contexto da Copa do Mundo de 2014”, que inclui aspectos como exploração sexual no âmbito do turismo, a pornografia infanto-juvenil, o tráfico para fins de exploração sexual e a violência sexual contra meninos e meninas no ambiente esportivo. Está contemplada também a discussão das políticas públicas existentes e/ou criadas em resposta ao evento, na perspectiva da prevenção e do atendimento às vítimas dessas violações.
Um concurso que investe na investigação
Os jornalistas que tiverem seus projetos selecionados pela comissão julgadora receberão uma bolsa de apoio para o desenvolvimento das reportagens. O valor varia entre R$ 11.550,00 e R$ 17.600,00, de acordo com a natureza do veículo no qual atuam (consulte quadro abaixo). Ao final, os jornalistas vencedores recebem ainda um prêmio de R$ 3.300,00.
Além do incentivo financeiro, o Concurso Tim Lopes também oferece o apoio de consultores especializados no tema, que ficam à disposição dos jornalistas durante a coleta de informações e produção das matérias.
A iniciativa é uma homenagem ao jornalista Tim Lopes, que foi assassinado em 2002 enquanto investigava casos de exploração sexual de adolescentes em uma favela do Rio de Janeiro.
Esta edição especial é uma realização conjunta entre a ANDI - Comunicação e Direitos, o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) e a Childhood Brasil, e conta com apoio da Organização Internacional do Trabalho (OIT), da Federação Nacional dos Jornalistas (FENAJ) e da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji).
CATEGORIA |
VALOR DA BOLSA DE INCENTIVO À PRODUÇÃO |
Mídia Impressa |
R$ 11.550,00 |
Rádio |
R$ 11.550,00 |
TV |
R$ 17.600,00 |
Mídia Online e Alternativa |
R$ 11.550,00 |
Especial |
R$ 11.550,00 ou R$ 17.600,00 (dependendo do tipo de veículo) |
Como participar
Os jornalistas interessados devem inscrever seus projetos por meio de um formulário específico que está disponível no site www.andi.org.br/timlopes. O projeto deve incluir uma proposta de pauta de forma detalhada, apresentando justificativa, roteiro de produção da matéria ou série de reportagens, fontes de informação que se pretende ouvir e previsão dos gastos que serão realizados, entre outras informações. No site também está disponível o regulamento completo do concurso.
Sobre a ANDI
Criada formalmente em 1993, mas atuando de maneira voluntária desde 1990, a ANDI é uma organização da sociedade civil, sem fins de lucro e apartidária, que articula ações inovadoras em mídia para o desenvolvimento. Suas estratégias estão fundamentadas na promoção e no fortalecimento de um diálogo profissional e ético entre as redações, as faculdades de comunicação e de outros campos do conhecimento, os poderes públicos e as entidades relacionadas à agenda do desenvolvimento sustentável e dos direitos humanos.
A ANDI nasceu no Brasil que pouco antes havia promulgado sua nova Constituição (1988), restaurando as liberdades e consagrando a democracia. Graças à forte pressão popular, a nova Carta proclamava, em seu artigo 227, que os direitos das crianças e dos adolescentes deveriam ser tratados como “prioridade absoluta” pelas famílias, a sociedade e o Estado. Dois anos mais tarde, o Brasil ratificou a Convenção da ONU sobre os Direitos da Criança e aprovou seu Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA).
A sensibilidade e visão de dois jornalistas – Âmbar de Barros e Gilberto Dimenstein –, somadas ao conhecimento de aliados das áreas da educação, da sociologia, do empresariado e da cooperação internacional deram origem à missão da ANDI - Agência de Notícias dos Direitos da Infância.
Sob a direção de Âmbar de Barros, a ANDI começou então a dedicar especial atenção a duas realidades inter-relacionadas: de um lado, crianças e adolescentes das classes sociais menos privilegiadas vítimas de toda sorte de desestruturação social; e, de outro, uma imprensa desatenta a esta mesma realidade, e com dificuldades em construir para si mesma uma cultura de investigação jornalística na qual os meninos e as meninas pudessem ser trazidos à agenda pública como sujeitos de direito.
Logo a ANDI iria converter-se num dos principais mediadores entre a grande imprensa e os grupos sociais que defendem os direitos desses segmentos etários.
Em busca de soluções
Desde o início de sua história, a ANDI assumiu o compromisso e o desafio de contribuir a um jornalismo que tanto denunciasse os abusos contra os direitos quanto trouxesse visibilidade às ações – de inúmeras organizações da sociedade civil e dos diferentes níveis de governo – que aportam soluções no combate à exclusão, promovendo respeito, bem estar e oportunidades para crianças e adolescentes.
Porque nascida da visão de jornalistas profissionais, não buscava a ANDI um “jornalismo de ativistas pela infância”. Tampouco acreditava em uma cobertura que, obcecada por retratos estatísticos que parecem insuperáveis, termina paralisando a sociedade. A ANDI queria (quer) um jornalismo crítico e independente, mas socialmente responsável e capaz de tecer um espaço de debates entre as mais diversificadas vozes, de tal maneira que mobilize os cidadãos a enxergar a realidade que vivem e a ajudar a moldar uma sociedade melhor e mais justa.
Mais tarde, sob a direção de Geraldinho Vieira (1995 a 2002), mobilizar os jornalistas para novas perspectivas no olhar sobre a infância e adolescência, contribuir à sua qualificação e devolver aos meios de comunicação análises permanentes sobre seu comportamento editorial foram maneiras de trabalhar que fizeram do jornalismo brasileiro um dos mais reconhecidos em todo o mundo por sua dedicação inteligente à pauta da infância e da própria ANDI uma referência internacional.
Em 2000, no contexto de uma imprensa pronta a seguir aprofundando a investigação sobre o universo da infância e vendo nos temas a ele relacionados a possibilidade de tocar nas raízes dos problemas sociais do país, nasceu a Rede ANDI Brasil, hoje presente em nove estados – uma estratégia de reaplicação da metodologia ANDI a partir de outras organizações da sociedade civil.
Deu-se também nesse período a primeira experiência de utilização da metodologia ANDI para a compreensão de como outros temas – no caso o investimento social privado – são tratados pela imprensa.
Os resultados celebrados na equação infância/adolescência + jornalismo demandariam, a partir de (2002), agora sob a direção de Marcus Fuchs e Veet Vivarta, que a ANDI implementasse nova expansão geográfica e ampliasse sua experiência em outras temáticas da agenda social e ambiental. Assim, inaugurou-se, em2003, a Red ANDI América Latina – hoje atuante em 12 países e focada principalmente nos temas da Infância e Juventude.
Ampliando as perspectivas de atuação
Com Veet Vivarta e Ely Harasawa (Secretária Adjunta de 2005 a 2008) este processo de expansão se consolidou. Realizaram-se ações (sobretudo com análises de mídia) em áreas como a responsabilidade empresarial, mudanças climáticas, ciência e tecnologia, questões de gênero, novas tecnologias sociais e marcos legais das comunicações.
O diálogo com as redações e o desenvolvimento de oportunidades de qualificação de jornalistas e fontes de informação passou a também considerar temas que afetam a agenda dos direitos humanos e do desenvolvimento sustentável como um todo (tais como séries de oficinas sobre direitos humanos, tecnologias sociais e mudanças climáticas). Houve, também, um esforço no sentido de um diálogo cada vez mais sistemático com as universidades e faculdades de comunicação – instituições centrais para a formação dos futuros profissionais de comunicação.
Os procedimentos de análises e monitoramento de mídia também se tornaram mais complexos e aprofundados – o que fortaleceu as metodologias criadas pela ANDI e gerou interesse em outros setores da agenda sócio-ambiental. Os resultados das análises de mídia na área da infância também estimularam a reaplicação e apropriação destes métodos por outras organizações, que, num processo de capacitação acompanhado pela ANDI, vem desenvolvendo ferramentas de observação crítica da mídia.
Além dessas expansões temáticas e territoriais, construiu-se na ANDI capacidade para atuação em questões de políticas públicas de comunicação – sobretudo com produção de conhecimento e advocacy. A instituição passou a ter presença mais determinante em fóruns de incidência desse campo: primeiro porque várias dessas políticas – ou a ausência delas – afetam diretamente os direitos da infância e a formação da criança (caso da classificação indicativa de programas de televisão, por exemplo); segundo, porque tanto os marcos legais que regem as comunicações quanto os modelos de auto-regulação influenciam nas possibilidades de avanço ético e investigativo do ofício jornalístico. A ANDI também passa a construir conhecimento sobre regulação de mídia, com análises sobre a consistência do marco legal de diversos países.
Como consequência do trabalho do Secretário Executivo Veet Vivarta, em 2011, depois de avaliadas as crescentes contribuições em outras áreas temáticas, a ANDI ressignifica sua existência. Agora como ANDI – Comunicação e Direitos, a missão se amplia, manifestando-se segundo três vetores: Infância e Juventude, Inclusão e Sustentabilidade e Políticas de Comunicação
Mais informações, acesse https://www.andi.org.br